Por que me tornei uma pessoa inflexível? Como melhorar?
- Marianna Protázio
- 30 de jun. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 3 de abr.
Este é um conflito que atravessa gerações, não é mesmo? Através dos tempos podemos encontrar inúmeros casos de conflitos intergeracionais onde a incapacidade de ser mais flexível provoca até rupturas. De imediato pensamos que a dureza vem dos mais velhos, mas não. Há inúmeras razões para se tornar rígido e a senioridade não é a principal "culpada".

Seja ao acusar um jovem de preguiçoso e irresponsável ou um trabalhador mais velho de desatualizado e vagaroso, o cerne deste tipo de certezas sobre a própria "razão" vem de lugares muito mais complexos. A psicologia analítica pode explicar a situação de várias formas, a depender do caso. Neste texto vou me ater ao motivo da inflação do ego como causa desta condição.
Não estamos abordando aqui o ser ranzinza, mas sim a incapacidade de abrir espaço pra outras formas de ser no mundo. Já viu um galo pronto pra briga? Ele estufa o peito e levanta a cabeça, mirando fixo os oponentes. Esta é uma cena caricatural, mas que pode expressar muito bem a energia de um ego inflado, que termina por ser também intolerante.
Olhando mais a fundo, vejamos o que a analista junguiana Marie-Louise Von Franz no livro "Psicoterapia" (2004: 292) nos diz sobre esse aspecto da pessoas inflexível, exemplificando de maneira geral o que pode vir a passar no ambiente de trabalho:
“(...) a pessoa que está inflada não gosta de trabalhar; ela acha que já sabe tudo melhor e mais profundamente do que os outros. Um trabalho árduo, por tanto, aliado aos necessários esclarecimentos através da análise, com frequência torna possível superar a inflação”.
A idade da "pessoa" tomada como exemplo nesse trecho pouco importa. Seja sob o nome técnico de inflação egóica ou presunção, arrogância, rigidez, tal estado pode afetar desde o presidente de uma grande corporação até um estagiário. A situação pode se dar também em muitos outros ambientes, como o familiar, dos relacionamentos amorosos, das amizades e até em vivências de esporte e lazer. Mais cedo ou mais tarde, a inflexibilidade acaba por gerar sofrimento tanto para a pessoa em inflação egóica quanto para aqueles que convivem com ela, através de rupturas, desentendimentos e, nos piores casos, situações de isolamentos.
No trecho que citei acima, Von Franz aponta como fio condutor do processo de cura tornar-se consciente desta dinâmica, no qual o analista é apenas aquele que acolhe e apoia o processo, favorecendo a integração deste aspecto pouco desejável, mas que, ao ser reconhecido, pode ganhar perspectivas de transformação. A psicoterapia empreende seu trabalho árduo de tocar no paciente seu lado "humano, demasiadamente humano", oferencendo um respiro para o ego sobrecarregado, que igualmente sofre com a pressão de uma super-humanidade.
Conhecem ou se identifica em em alguma medida com essa colocação? Se existe algo aí, estou aqui para iniciarmos juntos um processo de reflexão e mudança.